Me disseram, dia qualquer, que o
amor verdadeiro não existe. É, tenho que dizer, das últimas paixões levei a
lição: eles estavam certos. Todos temos interesses, é a tal ambição que nos
dita o ritmo dos passos na estação do trem, a intensidade dos estudos e a
veracidade do amor.
Eu poderia contar que amei, não
estaria mentindo, foi bonito, poético e até musical. Rendeu belos textos e
momentos inesquecíveis, mas, apesar de tudo isso, não foi de verdade. Não, não
estou dizendo que atuamos em todos os momentos. Achávamos que era pra valer,
até o instante em que a estrada se dividiu, e nós, que éramos como um só,
seguimos por caminhos diferentes.
O amor não é verdadeiro por que
somos sonhadores, curiosos e, acima de tudo, teimosos. Não é verdadeiro porque
a verdade não é, pra toda situação cabem dois pontos de vista, uma verdade que
desmascara a outra.
Mas tudo bem, sempre gostei de
fabulas, bonecas falantes e um de mentira em meio a minha verdade. Sempre
gostei do faz-de-conta e de usar a minha imaginação pra deixar o monocromático
da vida real com mais cores.
Tudo bem a gente se amar, mesmo
que não seja tão verdade, mesmo que na próxima semana os planos mudem, você se
vá e eu, fique aqui, esperando outro era uma vez, por que fora da historinha
eram duas, três... Me ama agora, de mentirinha mesmo. A gente
deixa o seu ir de encontro com o meu amor. Vai vivendo, até a próxima virgula,
paragrafo ou esquina. Tanto faz. Eu te amo, mesmo que o amor não exista.
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